quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Flux

Noite em tormenta
Noctívago a carregar entre os dedos
Areia de um túmulo de prazer e asfixia

Gritos e sussurros
O olhar de meu pai caindo
O ódio de minha mulher
O desespero de minha mãe
A vergonha de todos
E eu a fazer malabares com lâmpadas no sinal.

carros, arredores de amores e busca cíclica
aquele rosto branco
aquela tua boca pequena
Eu de duzentos anos te pedindo sal
Te amo
E digito seu nome no google há muitos anos.

Olhar para os olhos dela
Enche-me de sorriso e paz
Mas não há sequer um dia
Que eu sonhe em ir embora
Para ir beber cerveja na praia.





segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Dezembro

Estou do averso com a solitude
intrigado com aquela paixão recôndita
e perdi o apresso como quem esquece a fala
sim, perdi! Ao acaso proposital de encher-me com as besteiras.

Por que li alguns poetas chatos!
Por que escutei algumas músicas chatas!
Por que fiquei ofendido com arte pretensiosa e burra.

Estou dando tchau para toda a melancolia
por que a criação, as palavras, todo o forró das coisas
cheiram-me a belas pernas, seios de nuvem desconhecida
O saisons, ô châteaux!”
Sou todo para as estações e pra frente como um dardo
Quero toda a possibilidade de dar chutes e afagos
como quem esperou uma chuva que nunca veio.


Oração I


Por que eu estava morto
E não respirar e sonhar do averso
sentir o húmus e as raízes nos olhos
trouxe-me a exatidão do sonho

vez ou outra sorria no inóspito
alimentava larvas e centelhas
na ilusão de eu mesmo ser estrela
sendo o tolo do sacrifício inglório.

E todo o adágio que era esperar uma vela ou pranto
cansou-me gravar os dias no teto da sepultura
roguei a luz na escuridão e vi mil arcanjos.


domingo, 5 de outubro de 2014

Do Verdadeiro Perdão





Estrela que me conduz, estranho ser...
fatigado de desejos e buscas cíclicas
Reflito sobre toda partícula de minha vida
E visito cada segundo e todo sofrimento.

Já homem, ninguém havia me dito
que a ausência de sofrer provinha da compaixão
com o próprio sofrer.
Que todo anseio e desejos coagulavam cinzas em mim.

Envolto de vozes e pesadelos de terríveis bestas
Eu não conseguia deduzir o princípio daquela tristeza
E com um estalar de dedos, entendi tudo sobre o acaso.

O entendimento do que era dor trouxe-me certezas
Mas me encontro cheio de marcas, e vê-las

Debruço-me sem conjecturas e perdoo todo o meu passado.

sábado, 4 de outubro de 2014

Amor I


 
Ando tão esquecido em lidar contigo, coração
que escondo as chaves, minto descaradamente
escondo as fotos deste amor debaixo do tapete
e ando triste e feliz em lágrima e cartas noturnas.

Causa-me espanto, esta pétala de insegurança
adolescente de novo, nem isso, talvez uma criança
a brincar demais com um brinquedo inapropriado.

Mas nada é, nem importa, por que tudo é inferno
[Este inferno abissal que são minhas ideias rubras]
Em não admitir esta inabilidade amordaçada ao peito.

Dói, este desejo insistente e cortante
Por que amo este teu olhar e não saberia ao certo
O tamanho da morte de existir se te perdesse ou te ferisse.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O Barco


Navego em um barco abarrotado de caixas e ecos
beijo serenamente a lona e me afogo
acordando de um pesadelo que tiveram por mim

sem fantasias, sem glória, sem atingir uma centelha,
minha casa é esta solitude
comendo os espelhos que me olhei em momentos de fúria.
Mas hoje, as cinzas amarrotadas daquele sonho
só me parecem perdidas e despropositais.

Embora, chegue esta hora, toda a música,
toda a cor deste pêndulo que é viver
impulsionam-me na direção deste desejo inominado
se é mera vontade, se é impulso irrefletido não sei
continuarei
A velejar neste barco abarrotado de queixumes e enfados.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Prisioneiro



Travo um combate a cada minuto de insónia
E esta ânsia de prisioneiro
sonhando respirar o cheiro do mar
É como eu me sinto neste dia.

Estou deveras cansado deste enfado que é sentir
Destas idealizações maquiadas de mim mesmo
considerando-me um impostor
Até mesmo das minhas mais nobres virtudes.

Carregar esta pá para enterrar todas as desditas
assombra-me o quanto ainda as quero tão profundamente
apegado há toneladas de um vício tolo e brutal

Já cansado desta visão cinza
Estes minutos de combate não se travam a esmo
Pago o preço: para viver o que suponho por “sonho”
Que é mera representação do que idealizo por “vida”.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O triângulo da auto obsessão


Estrelas ainda
O presente que esta noite devolve é de medo
sou um universo cambaleante e só
onde tudo gira em torno do que suponho ser necessário
Obcecado
só esculto um eco a corroer meu peito pedindo
cada gota de sonho
cada amor da infância e beijo da adolescência
Sobre este pesadelo me encontro vazio
um espírito deformado da vontade
Um paraplégico do sentir.

Tanto ressentimento passa pela ponte deste inverso que é o passado
e deste instante, sobre a orbe de meu presente
raiva e impotência como um amargor na boca
Até quando me verei cada vez mais disperso no futuro?

Respiro, indago-me:
por que me afogaria no mar de imagens inexistentes do passado?
por que não lutaria contra meus próprios defeitos?
por que não acreditaria que logo mais tarde
virá o sol e o céu
e eu passaria por tudo, com ou sem um sorriso?






domingo, 28 de setembro de 2014

Ela (sobre a tua estrela)



Ela permaneceu a cantar
[mesmo que a chuva tivesse tangenciado toda a alegria e a tivesse feito querer desistir]

Ela permaneceu estendendo seus mantos
inundando de pétalas e crisântemos o caminho
sorrindo com os relâmpagos e expulsando um abismo
ancorados no meu peito como um cancro.

No meu peito, na minha brisa
Espaço de instalações velhas e carcomidas
Onde eu havia esquecido de mim mesmo.

Mas é tarde, irradia o dia
cansado de pesar e inundado do cheiro das estrelas
Ela olha nos meus olhos sem dizer : não temas
com os gestos inundando o ar
e com um abraço
despejou fora todas as âncoras e ferrugens atadas em mim.
[eu, poeta, homem feito, profeta do sonho, iluminado de símbolos]

Ela, com seus gestos largos e cabelos vermelhos
não pôde ver a singeleza de ter tirado a trave dos meus olhos
Ela, com suas mãos, não pode sentir
A locomotiva que eram minhas emoções e memórias
que estavam todas coaguladas em sua presença.
Com seus olhos, não pode ver a minha redobrada atenção
ao que seus lábios diziam
E com sua imaginação, idealizar o quão bem eu devo ter me sentido
ao caminhar atado a sua mão em alguns instantes.

No fim de tudo
Ela permaneceu a cantar
[mesmo que o que guardamos um do outro ameaçasse o esquecimento]

Eu, após a tempestade, e com fagulhas e cacos de vidros na alma
permiti-me calmamente
ser abraçado por tua leve estrela Morgânia.











segunda-feira, 26 de maio de 2014

Satori



Olhei-me acuradamente
Como um ventríloquo a compor imensas tragédia
E desperto
Eu era todo o artífice de minha ilusão
Sem ninguém para culpar.




Uma Resposta



(quatro de  IKENAGA YASUNARI )

Caminho
E esta respiração, e estes cabelos brancos
e este punho, este trabalho de colocar os sapatos
e fitar o sol, e este sorriso
este grande e sincero sorriso perante as coisas
Este incômodo de ser e agir conforme meus pensamentos e sentimentos...
Estou por todos os lados a tatear cada respiração deste meu caminho.

Nada quero de intensamente supremo ou ausente
Embora o morno não me apeteça
Embora o teu olhar ainda me estremeça
E eu esteja quase sempre sobre o logro do que poderia ter sido.

Vida que serpenteia em dobres de pesos colossais
Mesma monotonia, mesma ponte, mesma saudade
mesma afinidade com o olhar perante as coisas.

Tantos anos se passaram, poeira de década.
Por que ainda te quero tanto?
Por que a sensação de estar imerso em ti
torna-me tão sereno e contemplativo
e tão esperto e tão belo e tão mais forte?
Por que despertas em mim coisas tão distantes como a poesia,
a paixão, o pensamento, a música, e o desejo mais profundo
de viajar de olhos fechados em um longo beijo?
Bem sei eu
Que não é magia, ou destino, ou os arroubos randômicos de Deus
brincando ao acaso.

Ter a tua presença atemporal, como asa, como viga ou lâmpada.
é ter um vaga-lume no peito que pulsa sutilmente
Sinto que pertenço a ti
Embora controverso e intenso
eu tento, com minha alegre e vaga sabedoria
viver
com a certeza que imola o tempo
Pois ponho a prova sobre a clave máxima dos minutos
Todos os meus teoremas e alquimias que nada dizem
Todos meus testes de me perguntar falharam.
Eis firme, permaneces, Eu quero de novo beijar o teu sorriso...
Nada mais importa, este é o sentido
Não pensar. Sentir.










segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sonho



Enquanto esta luz rompe
o meu desejo
Paralisado de todo descaso.
Encaro-me friamente no espelho.

O que é este sonho?
Esta vaga atemporal, disforme e profunda
Que surrupia-me o sono
Acorda arraigada em minha visão
Respira com todas as minhas forças
O ideal que quero.

Mas estático
Magoado de todas as desditas da vida
Rompe de toda a minha fraqueza
Um grito colossal de mil centelhas.





terça-feira, 13 de maio de 2014

Completo.



Meu corpo liquefeito
mistura-se aparte de toda inquietude e vão desvelo;
brisa, maré, morosos coqueiros do maranhão...
A sensação de estar desperto de todo sofrer
O desapego de todas as delusões amargas do meu querer...

Meu corpo sem freios
Viga a sustentar todos os meus segredos desnudos
Fico aqui sobre esta tarde, a cismar de sonhos profundos
De encontrar a alegria em me misturar no tempo como um espelho.

Vespas, pássaros, grama, gafanhotos e nuvens...
Meu peso, meus olhos e minha saliva
Tudo em um todo, tudo fincado no ciclo da vida
Estou completo das ausências de meus desejos.



Fugere Causas.


A minha alma translada em todos os lados
De arcanos a cartas, de pétalas a escadas
Absorto como um vaga-lume no escuro
De certo, divago entre o sofrimento e a felicidade.

Escondida e mágica como o brilho de toda deidade
a lâmina ideal de meu ser, este velho labirinto
estou desperto mais que o céu, para tudo o que sinto
A mergulhar como uma rocha sobre o mar salgado.

Meus olhos, minhas mãos, meus pés sobre as folhas
cada sussurro de não ser e calar todos os meus pensamentos
continuo a andar e a acalmar meu coração em silêncio.

Mas como um navio quebradiço e moribundo
Estou a inundar de águas escusas o meu precioso mundo
De uma vaga a afogar-me de futuro e passado.