terça-feira, 30 de junho de 2015

Disforme

atado a garganta
esse estrangeiro inadequador
que é o teu eu referenciado em mim
é o xarope de cacos que tomo
todas as manhãs

ostento com tua voz
minha coroa de ressentimentos
minha casa caída e justificada
ostento essa barroada
que é meu eu embebido no teu

embora tudo
amo os grilhões dos teus cabelos
eu não saberia ao certo
se viveria
sem teu vírus
sem minhas correntes
e bolas de ferro
sobre o meu reflexo disforme


sábado, 21 de março de 2015

Demasiado doloroso para se estar entregue


Deixo cair do meu coração
bolas de arame entaladas como gigantescos redemoinhos
E velhas imagens e dolorosos pesares
emergem da chuva, do cheiro fresco, da solidão 
da madrugada.

Deixo cair do meu coração
Todo todo o controle, toda a fina conjectura
E me regozijo com o "não eu"
Em detestar estar imerso em uma orbe irracional
de desejos retesados, de poluições
imaginando um bem estar para enigmas indecifráveis
mensagens cercadas de time outs
e beijos que expiram
E a meninice em ter entregue ao desleixo a chave do meu peito
para que tu vida! me ferisse.

Mas algumas lembranças do mar
das pedras do litoral
E esse coração
Eleva-se perante a dor com os joelhos incendiados
E vendo na incoerência do existir
somente os cheiros, os abraços
que posso dar em mim mesmo
quando eu estiver solitariamente apartado
andando sobre as linhas do agora
do meu tudo.





sábado, 7 de março de 2015

Não me lembro de uma vez que devo ter tocado teu rosto com meus lábios.


Discos, canções e poemas velhos
não me lembro de uma vez que devo ter tocado teu rosto
com meus lábios.

A casa, o cachorro, a melodia menor
o timbre cálido, a vela, a chuva, a tempestade
chove no nordeste e essa solidão me faz corar
lilás

O rádio na madrugada, eu sempre esperava
Life House e Go Go Dolls.
Escrevendo versos, fumando cigarros, olhando
as aranhas nas plantas, sabendo que chegaria
atrasado no colégio
meu velho caderno
meu velho coração ambulante.

cheiro de corda quebrada
cancioneiros rasgados, aquelas palavras
entrecortadas, aqueles diálogos de horas
aqueles engasgos de chumbo
quando eu te encontrava
quando eu estava ao teu lado...
não me lembro de uma vez que devo ter tocado teu rosto
com meus lábios.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Um objeto null


Parece que aquele pesadelo, onde teus cabelos, lisos, como chumbo
sufocaram-me todo o dia, renderam-me boas considerações
ao fato de eu ter te dito, para ir embora.

Por que meu egoismo em relação ao teu corpo
E as tuas palavras [muito mais os silêncios deitada ao meu lado]
Caíram dos meus olhos como sombras prematuras.

Por que eu queria, ouvir dos teus olhos.
Eu queria te ver perder essa compostura
de achar essa conveniência entre nossas ausências
uma flor infrutífera, um tempo desbotado.

Eu sempre tive que ir em frente
E me acostumar com os boatos de tuas alegrias nos carnavais.





segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A tua vaidade.



Corpo é carne
lascívia, vaidade, vestimenta
O espelho rachando essa representação
deformada. Escorre caráter por todo o chão.

Vejo lágrimas pelos teus poros
e meu abraço pesado te afunda na imagem esquecida
de tua infância
Éramos tudo isso
os outros, as referências, o que diziam, e o que calavam.

Mas as tuas mãos e teus olhos
Nada mentiam
Por que me afogavam
Nesta solidão encapsulada em ti.




Deuses e foices.



Meus olhos escorrem a serragem
dos anseios de deuses ciumentos
como orações de criança
iluminado em um estado de desespero e alegria
eu coloco todas as minhas conchas
no teu terço de mistérios e sangrias.

Flores para os profetas
pólvora para os mártires inaudíveis!
falar é pesado, ter convicções é perigoso!
tão distante e posto nas nossas mesas
só vejo esse ressentimento de brisa salgada
sem árvores, só prédios, entre o café e
páginas de colunas frescas 
visto as existências podres do jornal.
não tenho comoções ou convicções
   [pois as idéias e reflexões ao meu redor, assemelham-se a moscas]

por quê tudo é demais e sem consolos
ou tudo é impossível como represar a decomposição e a fúria.


[Ao som de Tycho - Awake]